segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Lá fora

Dentro daquela garrafa estão todas as mentiras que um dia foram verdades.
Está um mundo que se foi; poeiras, traças, tudo corroído com o tempo.
E levam, os dias, a vertigem do que já foi toda sua vida.
Então vai se recordando, e percebendo que nem tudo aquilo é inútil.
Quer voltar atrás e encontrar onde escondera seu segredo de vida,
agora, enterrada sob a terra que cobre o chão que um dia pisou.
História apagada e engarrafada, deixada para trás.
Não há como voltar, mas tudo ainda está por se escrever.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Deixe-se

Atormenta-me a falta do teu sentir.
Respirar e, tão somente, imaginar.
Quão perto gostaria de estar, quão longe ficaremos pelo ar.
E palavras, agora, perdem-se por uma melodia que nem se consegue alcançar.
O frio traz a dor, e os ventos os minutos que estão por esvair.
Sinto medo, felicidade, bem-estar, mas entrego-me plenamente ao teu olhar.
Não deixe estragar esta lira por esta sua ira momentânea, vamos estar por estar e olhar, mar, ar, luar.

sábado, 19 de novembro de 2011

Volta

Olhando fixamente para o horizonte, o mundo ao redor dele foi-se indo.
Sob seu olhar fundo, as águas seguiam seu caminho, deixando para trás a terra por onde nunca mais passariam.
O dia estava amanhecendo e a dor que ele sentia não saberia explicar.
Estava só, entre o dia e a noite.
Queria ele voltar seus passos que o conduziram até ali, queria ele poder dizer duas palavras.
Tarde, está tarde.
Tudo se foi e o que resta é seu corpo abalado.
Percebe, a partir daquele momento, que animais eram mais sentimentais do que fora a sua vida inteira.
Ao tentar fugir enxerga a carne em decomposição, paralisado continua.
Sua mente gira e traz toda imagem de volta: a corrida, o medo, a violência, a coragem, o amor, a vida que se vai, o corpo que fica, a dor.
O que fizera para enfrentar tudo isso resume-se em nada.
Quem partiu não sente mais, ele que ficou arrepende-se de todo seu fingimento de vida.
A paz não há, suas mãos ardem para conseguir um segundo a mais.
Morre o pai, filho fica, no lugar de um tiro que merecia, de uma pessoa que era apenas aparência, vai-se a alma e a essência.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Inconcretos

Queria estar perto de alcançar. Percebo, porém, a minha desistênsia contínua, a vitória do cansaço que domina minhas últimas energias.
Giro, e volto ao mesmo lugar.
O espaço está pequeno, eu estou longe.
Voando sem voar, falando sem nada falar.
Quero o abraço que me faça flutuar, o dia que me faça sonhar, a noite que me faça acordar.
Lendo as palavras que formam as nuvens, agora adormeço.
Amanhã acordarei e lhe direi.

sábado, 12 de novembro de 2011

Musicalidade sem fim

Cantando "lalaia" atravessamos a cidade, dançando como uma borboleta atrás da flor, íamos ao encontro das árvores a nos refugiar.
E à sombra ficamos mudos, a olhar o céu, deitados feito véu.
O sol descia, a lua subia, meus cabelos voavam, o ar me encontrava e dizia sussurrando ao meu ouvido: "uuuush" e eu o acompanhava "yeah, yeah"!
Que susto levei, quando em minhas mãos um toque senti; acordei repentinamente, e vi então o que me despertara: uma pequena folha.
Não entendia, demorei para me encontrar naquele momento, naquele lugar. Alguns segundos atrás estava no paraíso, segundos agora que transformaram-se na rede que dormia no pátio de casa.
Surpresa a minha quando viro-me e escuto meu pai cantando: "uuuush lalaia yeaaah!"
Caí na gargalhada!