quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Entre rios

Ares leves atravessam meu corpo,
levam-me, refrescam-me,
se vão para não mais voltar.
Água que passa,
sem lavar, sem diluir,
apenas leva o peso
e deixa sua pureza.
O céu opaco, antes brilhava
Os olhos claros, antes escuros
O dia dia, antes noite
Tão simples como um bebê engatinhar
Quanto quebrar uma taça
Quando ser hoje
Tudo foi ontem
Será o amanhã
Mas ainda é agora.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Água benta

Vai como se nunca tivesse passado; o passado nos deixa apenas a pensar e lembrar e nada mais se pode fazer se não calar.
Um segundo atrás queria voltar, mas o tempo não permite; e tudo me rodeia como um carrossel atingindo sua maior velocidade.
Está vazia a xícara, a sala, o quarto.
O que restou presente foi a poeira que agora encobre a mesa.
As notas daqueles dias tocam a minha cabeça, transportando-me de volta para aquele instante tão claro; não aceito que ele não volte, não entendo, não quero.
Teimosia que invade esta pessoa agora e sempre, mostrando-me que existem dias inevitáveis.
O conjunto de tempo vem e vem e vem, e lá estamos eu e vocês, eu e eles, eu e eu.
Nada se pode fazer.
Espero que as águas consigam ao menos purificar a vida.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Constante

Faltou a luz.
Meu tempo, antes acelerado, girou e agora passa vagamente pelos meus braços.
Não vejo; mas quero ver!
Procuro; sem saber pelo o quê!
Venha ao meu encontro, paz que abrange os bosques;
Em tardes ensolaradas, meus olhos passam por páginas marcadas, alvas, sem almas.
Quero avistar você, imagem serena;
Não sei se existe, nem quero ter certeza;
Se a visse, seria uma completa surpresa;
Como não a vejo, ainda és uma mera estrela.
Brilha e vá,
por traz das nuvens encontrarás.
Não sei ao certo quanto tempo faz,
nem sei se o tempo é o tempo que há.
O escuro vejo,
vejo, não vejo.
Veio-te ao meu encontro,
adormeço em belos sonhos.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Sem traços

No silêncio desta rua, procuro a saída por um caminho que desenho.
Em meus olhares distantes nada vejo.
O vazio que preenche meu corpo traz a dor em meu peito.
Não saber, ou estar longe disso, deixa-me em um completo desnorteio.
Os traços que seguem esses passos, são traçados e não percebidos.
Como o sol que se esconde atrás da nuvem, e aquece meramente minha pele.
São os raios do sol que se fundem em meus pensamentos, e agora me fazem pensar em nada pensar.
Minhas mãos, que aos poucos sentem, a dor do que passou.
E seguir não é tão simples, os dias derrubam-nos, mas também nos erguem.
Para tudo que é feito de, cinza, o céu está nublado.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Olhar

Acorde!
Isto tudo não é um sonho,
é real,
você está aqui,
nós pertencemos
a este abismo irregular.
Não podemos fugir,
não podemos esconder,
somente podemos vir
e ver
e acreditar.
Nossos olhos levam as marcas,
 nossa mente a lembrança,
nossas mãos;
o afeto da vida.
Ritmamente andamos,
vamos percebendo que está claro,
que já é dia novamente,
como tudo passa,
como tudo passou.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Não

Tristeza que invade nossas mentes e corações; queremos paz de tudo que é ruim e amargo!
Deixamo-nos levar por caminhos melhores, onde consigamos encontrar pássaros que se amam, o sol alcançar o corpo, os passos ao encontro da paz destes que nos rodeiam.
Em algum lugar encontraremos nossa alma, nossos porquês, nossas injustiças, alegrias e tristezas. Porque somos feitos por sentimentos aglomerados em um único espírito e eu estou à procura das falhas que constroem um ser.
Sejamos bons, unidos, fortes; para lutarmos pelo bem, mais poderoso que o mau.
Água gelada que molha esta face e leva as impurezas, lave nossas mãos e rostos para acordamos deste pesadelo.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Cores

Flores, cores, coloridas flores, voltem!
Não as vejo em lugar algum, mas também não as procuro mais nesse mundo azul.
Não percebo mais suas cores, suas dores, seu ar.
Esqueci de perguntar, deixei de cuidar, e se água faltar?
Já não se tem mais cheiro, nem desejo; seu brilho caiu com as folhas que cobrem o chão.
Os raios de sol que as iluminavam, deixaram-as.
Vertigem da vida, mistérios sem rima, vão e aqui estão, novamente.
Mas bastou abrir a porta, a janela, os olhos, e que surpresa eu tenho, vocês nunca saíram do seu lugar.

sábado, 17 de março de 2012

Profundezas

Tão instável quanto o tempo,
tão forte quanto o vento,
não tem cor,
não tem cheiro,
tem lembranças
e pensamentos.

Um suspiro,
um desejo,
uma flor,
uma dor,
são conjuntas,
são intensas.

O olhar
sem falar,
a mágoa
sem tentar,
o dia
sem estrela.

Respira a incógnita da vida
transpõe a porta sem saída
procura a resposta perdida
nas profundidades da mente iludida.

terça-feira, 6 de março de 2012

Escondido

Movendo-se somente por mover, fechou os olhos e esqueceu o que lhe rodeava.
Caminhando como se fosse encontrar a resposta ou algo concreto que impedisse sua sede insaciável.
Não era simples como achava, não era o que procurava, não encontrava se quer a luz do sol em seu pálido rosto.
Saindo do ritmo daquela canção, procurou distanciar seus passos de tudo que recordava e que lhe trazia mágoas; mas não sentia nada além de um aperto.
Não conseguia descrever, não sabia decifrar, doia sem doer, e sua vida virou para baixo.
Inspirou, tão logo, soltou o ar.
Descobriu que o remédio estava dentro de si mesmo, que bastava levantar a face para enxergar a vida viva em sua volta.
Abriu os braços que nunca mais fechou.
Encontrou o que jamais imaginou, a si próprio.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

90 anos de arte

Em 1922 acontecia um movimento muito importante para nós, brasileiros.
A semana de arte moderna, que hoje completa 90 anos, muito rejeitada e vaiada por uma parte significativa da população, mostrou que não se deve ficar quieto, que se deve lutar para se alcançar o que queremos. É o que se vê atualmente, com a primavera árabe e outros movimentos de estudantes e populações inquietas pelo mundo.
Foi assim que conseguiram a liberdade literária, e finalmente expressar o que sentiam sem métricas e parágrafos e rimas, simplesmente escreviam, ignorando totalmente a arte parnasiana.
Para finalizar uma frase de Mário de Andrade, um dos líderes do movimento.
"Escrevo sem pensar, tudo o que o meu inconsciente grita. Penso depois: não só para corrigir, mas para justificar o que escrevi."'

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Incansável

Vermelho, amarelo, laranja, o fogo se compõe e sobem as chamas.
Enquanto seus olhos são iluminados pelo calor alaranjado, os mesmos são encontrados vidrados, porém distantes em pensamento.
A sua insegurança de ser, de tocar, de dizer, ou, de simplesmente ouvir lhe traz o vazio que agora é aquecido pelo fogo que almeja o céu.
As vozes são baixas, o frio já não é desculpa, o que falta é a resposta que a perturba incansavelmente.
Na sua mente, a lucidez do que foi e do que vai ser.
Ela não desiste, como as chamas que vibram com o vento, e que mesmo assim, não deixam de perder sua intensidade.
E aos poucos vai fechando os olhos já aquecidos e junto a braza vira cinzas e as cores vão perdendo seu brilho e a escuridão penetra no ambiente e as cortinas se fecham e na sua mente continua a bagunça que só vai cessar com seus sonhos de princesa.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Pedra por pedra

Nesta velha casa, onde tudo estava enterrado, ela entrou.
Encontrou seus resquícios de infelicidade, suas dores, sua realidade.
Sob quatro paredes ela trancou-se e chorou.
Lembrando de dias que passaram porque ela os deixou passar.
Queria, ela, poder voltar.
Reconstruir.
Mas não desistir.
Secando incansavelmente suas velhas lágrimas decide construir uma nova casa.
Começa devagar, atrás do que antes não buscara, produzir aquilo que planejava.
E assim vai, transformar o que antes estava em sua mente, a casa que sonhava, e que agora, projetava.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Ritmo e vida

Vendo este infinito cinza
que está o céu,
agora,
parece que tudo
transformou-se em claro.
Claro vazio,
claro dilema,
clara contradição,
clara ilusão,
claros cabelos,
claros escuros,
claros, claras,
clara, claro.
Voe e não volte jamais.
Claras sombras
que não guiam caminhos,
mas que atormentam-me segundo a segundo.
Em claros olhos
percebo a desilusão do eu,
a abstinência
que é uma mente conturbada.
Clara vida,
vou escrever versos claros,
mas não na clareza de minha alma,
claro poema;
desclara vida.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Imóvel

Respiro o ar leve que invadiu meu corpo e levou-me a voar.
Como a estátua da casa, estou imóvel a pensar.
Posso sonhar, sem dormir, posso tocar, sem sonhar.
Bate e ecoa, o som, a cada passo que a mim aproxima-se, acelerando ritmamente.
Perco-me pela musicalidade do tom, e chego às nuvens sem perceber.
Era a música que me conduzia, a vida nova que me trazia, o novo dia que nascia.
Ainda paralisada, perplexamente, pisco meus olhos que imobilizaram-se sem notar.
A visão embaçada, que agora identificava, trouxe-me de volta à terra para novamente sonhar.